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Estudo propõe que cursos de enfermagem incorporem novos conteúdos para aprimorar o ensino de saúde do adolescente


Créditos da imagem: milanmarkovic by freepik

Iniciativa da Unidade de Recursos Humanos da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em Washington, busca qualificar o atendimento a jovens em situação de vulnerabilidade
 
Dentro da sociedade, muitas vezes determinados assuntos possuem estereótipos que não correspondem, necessariamente, à realidade. Na saúde, por exemplo, os adolescentes são comumente vistos como pessoas saudáveis, o que faz com que eles não recebam cuidados tão específicos e personalizados. Mas vai além. Esses jovens possuem acesso limitado à saúde, e isso não diz respeito apenas a questões geográficas, mas também ao atendimento realizado a esse público em serviços de saúde e outros espaços. 

Importante fase do desenvolvimento humano, a adolescência é o momento em que as pessoas enfrentam e vivenciam fatores como crescimento físico, mudanças hormonais, relações sexuais, novas emoções, expansão das habilidades cognitivas, além da construção moral e de relacionamentos. Dentro dessa série de contextos, é fundamental a implementação de abordagens específicas de comunicação e habilidades para aprimorar o cuidado com quem está nesse estágio da vida. 

Um estudo publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem (RLAE), com sede na USP, em Ribeirão Preto, intitulado “Conceitos e temas relacionados à saúde do adolescente na formação em Enfermagem”, constatou a necessidade de treinar profissionais da saúde e, principalmente, aprimorar o ensino da temática a graduandos de vários países da América Latina para que eles possam melhor atender os jovens. Na pesquisa, foram analisados os conteúdos sobre Saúde e Desenvolvimento do Adolescente ministrados em cursos superiores de 95 escolas de enfermagem em três países: Colômbia, Equador e Peru. Participaram do estudo professores e representantes das instituições, que responderam a questionários sobre a formação na área e os tópicos ensinados aos estudantes durante a graduação. 

A partir dos resultados obtidos, os cientistas identificaram que é preciso ampliar o uso de metodologias ativas e multimídia interativa em sala de aula, expandir o conhecimento sobre as leis e políticas relativas a esta população, além de abordar temas atuais e relevantes sobre a saúde na adolescência. Entre eles estão: comportamento, identidade de gênero e orientação sexual, bullying e cyberbullying, uso de tecnologias digitais, violência entre parceiros, paternidade adolescente e puberdade tardia. A proposta é de que todos esses tópicos sejam inseridos na grade dos cursos de graduação ou oferecidos como formação complementar para qualificar o atendimento oferecido pelos profissionais da saúde.

A Assessora de Enfermagem e Técnicos de Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e professora aposentada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, Silvia Cassiani, explica que o público-alvo dessas ações são os adolescentes em condição de vulnerabilidade. “Temos como um dos focos, por exemplo, os indígenas, que se encontram em localidades mais remotas”, afirmou. 

Intimidação, violência cibernética e cyberbullying são exemplos de problemas que adolescentes de todas as regiões enfrentam, sendo que tais temas são recentes tanto para os professores das escolas fundamentais e secundárias como para os profissionais da saúde e investigadores na enfermagem. Ou seja, a saúde dos adolescentes ainda se vê afetada pela nova realidade tecnológica que vivemos. Estima-se que 900 mil jovens morreram em 2019 devido a condições evitáveis ou tratáveis, portanto investir no cuidado dessa população e aprimorar os programas voltados para esse público são iniciativas essenciais para garantir a saúde das futuras gerações. 

“Os adolescentes representam 16% de toda a população mundial. Quando falamos deles, inicialmente pensamos que são pessoas saudáveis, que não precisam estar no centro da atenção dos serviços de saúde. No entanto, a verdade é que muitos deles possuem dificuldades e barreiras para acessar esses serviços. Por isso a necessidade de desenvolver novos planos de ação, pois muitos problemas que acometem esse público são evitáveis. A enfermagem, por sua vez, possui alta representatividade numérica nos sistemas de saúde, o que exige que esses profissionais estejam aptos para trabalhar com o adolescente nos mais diversos ambientes”, explicou a Consultora da OPAS, Bruna Moreno, uma das autoras do artigo. 

Segundo o estudo, 68% dos professores das escolas de enfermagem participantes possuem treinamento específico na área de saúde do adolescente, o que impacta positivamente a formação de enfermeiros. No entanto, observa-se que esses profissionais ainda precisam se capacitar para lidar com diversos assuntos que afetam o dia a dia desses jovens, como violência, drogas, suicídios, gestação precoce, entre outros. A preocupação com a saúde dos adolescentes e a qualificação dos enfermeiros, inclusive, é uma demanda da OPAS. “Estamos buscando experts do mais alto nível na Região das Américas para que consigamos atualizar os enfermeiros com o que há de mais recente para lidar com esse público. A ideia é capacitar o maior número possível de profissionais da América Latina e Caribe para atuação imediata na área”, explicou Silvia. 

O estudo, que contou com a participação de pesquisadores da Universidad Nacional de Colombia, da Universidad de Guayaquil, do Equador, e da Universidad Nacional Mayor de San Marcos, do Peru, foi financiado pela OPAS e pelo Fundo Global de Saúde Canadense. O projeto, que ainda será desenvolvido por alguns anos, não irá se restringir apenas aos adolescentes, mas também buscará implementar ações para benefício de crianças e mulheres em situação de vulnerabilidade.
 
Por Fabrício Santos e Henrique Fontes

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