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Refugiados e migrantes que vivem no Brasil têm maior prevalência de doenças crônicas do que a média nacional


Créditos da imagem: rawpixel by Freepik
 
Pesquisa financiada pela OMS identificou que as taxas de patologias como tuberculose, diabetes e hipertensão são maiores entre a população que veio ao País em busca de uma vida melhor
 
O Brasil é um país receptor de migrantes e refugiados que buscam melhores condições para se viver. No entanto, essas pessoas podem se tornar uma preocupação para a saúde pública quando se encontram em situação de vulnerabilidade. Por isso, uma pesquisa financiada pela Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Organização Mundial da Saúde (OMS), buscou identificar a predominância de uma série de doenças crônicas neste grupo. Os resultados do trabalho, que foi publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem (RLAE), mostraram que refugiados e migrantes que vivem no País possuem maior prevalência de tuberculose, diabetes e hipertensão do que a média nacional.

O estudo foi feito com a participação de 553 migrantes e refugiados de diferentes regiões do país, todos maiores de 18 anos, que responderam a um questionário eletrônico com perguntas sobre suas condições socioeconômicas e de saúde. A maioria dos participantes era de origem venezuelana (51%) e cubana (6.9%), bem como do sexo feminino (58,2%). Cerca de 40% do grupo possuíam ensino superior ou pós-graduação. As respostas mostraram que, entre os que já tinham recebido o diagnóstico de alguma patologia crônica, 28,5% declararam ter hipertensão, 21,2% diabetes e 3,07% estar ou ter tido tuberculose. Foi identificado, ainda, que 14,6% deste grupo possuíam depressão e 5,3% HIV.

Em contrapartida, os dados da população geral brasileira mostram que cerca de 24,5% dos que relatam ter alguma doença crônica possuem diagnóstico de hipertensão, 7,4% de diabetes e aproximadamente 1% de tuberculose, números menores do que os revelados entre o grupo de migrantes e refugiados. Realizado ainda durante a pandemia de Covid-19, o levantamento demonstra que, embora o público-alvo do trabalho tenha vindo ao Brasil em busca de melhores condições de vida, a nova realidade almejada pode ser atrapalhada por problemas de saúde que persistem ou são acentuados após a chegada dos novos moradores, que seguem enfrentando dificuldades financeiras e carecendo de condições dignas para viver.

Por conta dos desafios diários encontrados em um novo país, muitos refugiados e migrantes priorizam trabalhar para a subsistência, negligenciando cuidar de sua saúde ou tratar de enfermidades pré-existentes.

“Ao migrarem, essas pessoas normalmente carregam um histórico de doenças dos locais de onde viveram ou passaram, que muitas vezes não possuem condições de higiene adequadas, entrando em contato com novos patógenos. Somado a isso, a concentração desse público em periferias, o processo de interiorização e a distância de serviços essenciais são barreiras para os migrantes. A precarização do transporte coletivo e até mesmo a demora de horas para chegar a um atendimento de saúde também são empecilhos, ainda mais para uma população que muitas vezes se vê obrigada a caminhar vários quilômetros sem ter ao menos um calçado” explica Sônia Vivian de Jezus, professora da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e uma das autoras do artigo.

O Brasil apresenta cerca de um 1,3 milhão de migrantes internacionais e 60 mil refugiados, de acordo com o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Doenças que são transmitidas por vias aéreas, como a Tuberculose e a COVID-19, têm sua proliferação facilitada em ambientes como meios de transporte lotados e precários ou em locais com aglomerações que favorecem a proliferação viral e bacteriana, como é o caso dos abrigos onde muitos dos novos moradores se instalam. Esse conjunto de fatores aumenta os riscos para os povos recém-chegados e aos profissionais da saúde, elevando o número de vetores dessas doenças.

“Nós sabemos que a tuberculose é uma doença muito ligada à pobreza, por isso a gente quis estudar as condições vividas por esse povo principalmente durante a pandemia da Covid-19, além de entender sobre as acomodações de abrigos e como era o convívio desse grupo com famílias e bolhas sociais diferentes. Nossa ideia foi avaliar de que forma essas condições poderiam afetar a vida dessa população” disse Ethel Maciel, Professora Titular da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Secretária da Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde.

A mudança nos hábitos alimentares, o novo estilo de vida, a moradia em locais precários, a dificuldade de compreensão do idioma e, consequentemente, de comunicação, além da falta de documentação, são alguns fatores que dificultam o acesso desse público a serviços básicos, como o de saúde. Alguns dados que ilustram as dificuldades vividas por essa população são os sobre a contaminação pelo novo coronavírus. Na época do estudo, apenas 22,6% dos entrevistados disseram ter sido testados para a doença e somente 5,2% passaram por algum exame médico relacionado à enfermidade.

O Sistema Único de Saúde (SUS) abrange o tratamento de diversas doenças de modo gratuito, mas essa não é uma informação que chega de forma efetiva a todos os “novos brasileiros”, que muitas vezes desconhecem a legislação nacional e, eventualmente, até evitam cuidar de sua saúde acreditando que terão gastos. Compreender melhor as dificuldades e vivências dessa população ajudará a desenvolver estratégias e políticas públicas que permitam um melhor atendimento a essa comunidade.

Ao tratar de uma população que ainda possui grande dificuldade de acesso aos serviços de saúde e aos sistemas de proteção social, o estudo baseia-se em evidências para orientar e guiar a criação de ações que aumentem a inclusão, acessibilidade e os direitos aos migrantes e refugiados do Brasil.

“A conclusão do artigo é de que precisamos construir melhores meios de vida para os migrantes e criar propostas de políticas de vigilância que ainda não existem no país. A gente pode ver, mais uma vez, como é importante realizar pesquisas para guiar ações públicas”, finaliza a professora Ethel.
 
Por Samara Silva e Henrique Fontes, da Assessoria de Comunicação da RLAE

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